Inimigo meu

Há um inimigo meu

Que está muito perto de mim.

Sem fazer alarde

Ele transita por minha vida

E até consegue, às vezes,

Fazer dela uma avenida engarrafada.

Há um inimigo meu

Que bebe no meu copo

Sem salivar as bordas.

Ele embebeda meus dias

E até consegue, às vezes,

Fazer deles uma imensa corda bamba.

Há um inimigo meu

Que traja minhas roupas mais íntimas

Sem derramar um pingo de suor.

Ele trilha meus pensamentos

E até consegue, às vezes,

Fazer deles um trem desgovernado.

Há um inimigo meu

Que vive tentando viver minha vida.

Sem que eu queira deixar de amar

Ele espatifa meu coração

E até consegue, às vezes,

Fazer dele uma pedra sem pulsação.

Há um inimigo meu

Que beija o interior da minha face

Sem que eu sinta seu toque.

Ele acaricia as raízes dos meus cabelos

E até consegue, às vezes,

Fazer de meus olhos um rio.

Há um inimigo meu...

Que mora no meu eu.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 03/01/2008
Reeditado em 04/01/2008
Código do texto: T801570