Travessia
Todos os dias me levanto
às cinco horas.
Quem pudera viver esta imensa
loucura de meu dia-a-dia.
Esta certeza de brincar com
as nuvens é a única coisa
que tenho.
As gaivotas me parecem
quase ao alcance das mãos
e o delicado outono,
me empresta os sonhos
dos poemas sem fim,
dos devaneios daquelas que li,
de tantas Marias, tantas Lélias e Cecílias.
E esta certeza de brincar com
as nuvens é somente sonho,
daqueles de alecrim.
A travessia me parece sim,
sem fim. O recomeço, o acordar sem
ter às mãos o giz
e o ócio de minhas epopeias
fazendo a vida passar
como bolhas de sabão.