Transbordar
O pouco
não me basta.
O meio termo.
O dia sim
dia não.
Um pé dentro
outro fora.
Um dia morno,
um copo meio cheio.
Também não me agrada
um copo meio vazio.
Tudo em mim
transborda.
E gosto de fazer
transbordar.
Gosto de tudo
o que é forte
intenso
desafiador.
Gosto do sim
e do não.
Não gosto
da indefinição.
Gosto da noite
e do dia.
Não me deslumbra
a penumbra
as cores que nada são.
Gosto de quem
se assume
quem é de verdade,
e só verdade
consegue ser.
Gosto
de quem é,
não quem
pretenda parecer.
Prefiro o diabo
a um anjo fingidor.
Quem me odeie
a quem não saiba
dar-me amor.
Gosto
de ouvir a música alta
ou muito baixinho
para devagarinho
poder adormecer.
Não me encanto
com:
-Um dia,vamos tomar um café!
Esse dia não vai chegar.
Prefiro quem chega
e fica.
Quem bata à porta,
queira entrar
se sente no sofá
e me ouça
tagarelar.
Tenho tanto
para falar
rir, chorar
amar.
Se assim for
terei segredos
a revelar.
Muitos.
Tantos que quase
os grito
a quem os queira ouvir.
Quem vier
não precisa ser perfeito.
Pode ser polícia
ou ladrão.
Pobre ou rico
culto ou simples.
Pode ter
as mãos calejadas
ou os pés.
Pode ser tudo,
menos querer parecer
quem não é.
O pouco
não me basta.
Eu quero tudo,
senão
Não quero nada.