Oração poética
Papai nosso que estais no céu
Hoje minha oração será pelo papel
Não nos deixe faltar palavras nem folhas
Em tempos de seca bebemos tinta de caneta
Tiroteio de falas e intrigas como se fossem balas perdidas cruzando na minha mente
Passo a vassoura sobre o tapete internamente e a poeira voa, fazendo a limpeza
Lança que julga feita de agulha estora minha bolha
Chuto a bola para a parede, ela sempre volta
Hoje meu café da manhã é sopa de letras sobre a mesa
Sem sobremesa
Eu penso atoa enquanto lavo a louça
Mãos limpas e pés pisando na lama ou pés frios e mãos em chamas
Tá perigoso demais ficar acordado
Então dormir seria um ato covarde?
A liberdade só pode sonhar atrás das grades
Quem é mais sincero comigo se não for meu espelho?
Quem é que mais escuta meus pensamentos se não for meu travesseiro?
Essas lembranças é algo que te prende dentro da mente e te acorrenta externamente
E se eu fico parado sou levado pela enchente
Escrevendo minha história aqui
Porque existem borrachas vivas que me apagam me fazendo sumir
Nessa corda bamba onde eu não posso cair
Nadando em lava
Trancaram meu leão na jaula pra ele não sair
Costuraram minha boca para evitar de abrir
Me algemaram para não escrever
Mas a consciência grita alto porque ela não consegue correr
Semente de cacto crescendo na alma
Sendo regada pelas próprias lágrimas
Excesso de palavras?
Tô carpindo o mato alto com essa enxada
E minha mão já tá bem inchada
Esse elevador eleva a dor e a leva sem pudor
Na contra mão dessa calçada
Mas nada que eu escrever é novidade
Minhas palavras não são só minhas na verdade
Poemas melancólicos nunca tem uma identidade
Licença, tô adentrando em lares
Abrindo mentes trancadas utilizando as palavras chaves que vão criando as frases e em meio a essa tempestade, o bem, a maldade e a única verdade
Minhas múltiplas personalidades fizeram as pazes
Fogo aceso sobre meus medos
Faço dessa fumaça o meu incenso
Pisando em cacos de vidro dançando frevo
Terminando a oração mesmo com milhos nos joelhos
Amém.