A BOCA
estou cercado de corpos
que rodam em círculos
sem consciência de sua condição
não sabem que a vida é uma ilusão
a ilusão os mantém vivos
para servirem à Boca
envolto a feras devoro insetos
bato a cabeça contra a parede
a mergulho em água fervente
mas continuo o mesmo
diante do espelho
me revolto contra
todo o mecanismo da Boca
a grande Boca
comer e ser comido
não há nada além disso
alimentar a Boca
mesmo sabendo
de todo seu ciclo vicioso
como uma criança idiota
me rendo à Boca
que me devora sem permissão