A poesia paira na bruma
Enquanto o vaga-lume alumia o céu, um vagabundo escurece a lua.
Enquanto a abelha fabrica o mel, um moribundo morre na rua.
Enquanto o poeta faz um cordel, a poesia paira na bruma.
É muito fácil tu tirares o chapéu, p'ra quem vive colado na sua.
Após o dedo, o que resta é o anel de quem viveu na luxúria.
É bem mais fácil tu fazer o papel da mais perfeita criatura, mas quando a noite chega e o véu da ilusão se rasga e se esfuma...
O que te resta é o vazio cruel de quem não tem amor nem crença alguma.
Enquanto o sol nasce e ilumina o dia, um sonhador dorme na cama.
Enquanto a flor desabrocha e perfuma, um espinho fere a quem ama.
Enquanto a música toca e encanta, um surdo vive na lama.
É muito fácil tu cantares alegria, p'ra quem tem tudo na palma.
Após a festa o que resta é a ressaca de quem bebeu da falsa calma.
É bem mais fácil tu fugires da agonia, da mais cruel e dura realidade, mas quando a vida cobra e o preço pesa, e o destino muda e a sorte cessa...
O que te resta é a dor sem beleza, de quem não tem fé nem esperança.