A poesia paira na bruma

Enquanto o vaga-lume alumia o céu, um vagabundo escurece a lua.

Enquanto a abelha fabrica o mel, um moribundo morre na rua.

Enquanto o poeta faz um cordel, a poesia paira na bruma.

É muito fácil tu tirares o chapéu, p'ra quem vive colado na sua.

Após o dedo, o que resta é o anel de quem viveu na luxúria.

É bem mais fácil tu fazer o papel da mais perfeita criatura, mas quando a noite chega e o véu da ilusão se rasga e se esfuma...

O que te resta é o vazio cruel de quem não tem amor nem crença alguma.

Enquanto o sol nasce e ilumina o dia, um sonhador dorme na cama.

Enquanto a flor desabrocha e perfuma, um espinho fere a quem ama.

Enquanto a música toca e encanta, um surdo vive na lama.

É muito fácil tu cantares alegria, p'ra quem tem tudo na palma.

Após a festa o que resta é a ressaca de quem bebeu da falsa calma.

É bem mais fácil tu fugires da agonia, da mais cruel e dura realidade, mas quando a vida cobra e o preço pesa, e o destino muda e a sorte cessa...

O que te resta é a dor sem beleza, de quem não tem fé nem esperança.

Will Guará
Enviado por Will Guará em 15/11/2023
Reeditado em 15/11/2023
Código do texto: T7932304
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