Eu sou poeta
Eu sou poeta
Quando minha alma rasga em dor
e eu suplico ao esquecimento
Quando amar me remete ao terror
e a lembrança se faz sofrimento
Eu sou poeta
Quando lamentam pela injustiça
enquanto assassinam o ideal de igualdade
Quando a coragem se faz omissa
na revolta do grito covarde
Eu sou poeta
Quando ouso sonhar
e bebo o sofrer da humanidade
Quando a compaixão me faz chorar
e a dor do mundo me leva a insanidade
Eu sou poeta
Quando traduzo o que alma quer falar
e dou voz ao que está no interior
Quando meu existir faz meu peito protestar
e chama o “ser razão” de ditador
Eu sou poeta
Quando me atrevo ser verão
nesse mundo tão gelado
Quando meu sangue ferve paixão
e incendeia meu olhar apaixonado
Eu sou poeta
Mesmo que os corações não me escutem
Mesmo que as almas fiquem vazias
Mesmo que os céticos me refutem
Mesmo que assassinem a poesia
Eu sou poeta
Enquanto meu coração bater
Enquanto minha alma ousar sentir
Enquanto a arte ainda viver
Enquanto em mim, ela ainda existir
Eu sou poeta
Até que não existam mais versos
Até que não existam mais artistas
Até que só haja os perversos
Até que só restem os conformistas
Eu sou poeta
Ainda que me falte a letra
Ainda que me falte o caderno
Ainda que meu pecado seja a caneta
Ainda que meu castigo seja o inferno
Eu sou poeta
Ainda que isso não satisfaça o meu peito
Ainda que isso não me conforte
Ainda que esse seja meu defeito
Ainda que me chegue a hora da morte