INTERIOR

INTERIOR

Eu olho,

Então entro,

Me detenho,

Continuo entrando

Vou até o máximo,

- Pelo menos tento-,

Quero voltar,

Não consigo.

Continuo indo,

O mais fundo

Sempre olhando.

Na volta?

Nada existe,

Apenas o que vejo

Mas não enxergo

Entro e vejo as formas:

Todas as formas,

As mais minúsculas

E assim a conheço

Interiormente.

Ou, às vezes

Nem vejo nada

Porque não quero ver.

Quero sair e,

Não consigo.

Estou embrenhado

No mais profundo

Da minha imaginação

Passando por caminhos

Longínquos e incertos,

Que nem eu mesmo sei

Para onde vão

Por onde estão.

Volto!

Finalmente vejo que,

Nada vi e nada queria ver.

Olho novamente,

Tento entrar e não consigo;

Então desisto e

Olho para outro lugar.

Consigo entrar.

E assim recomeça

Tudo se passa igual

Só que, de maneira diferente

Pois não é mais a mesma coisa

O mesmo objeto.

Assim eu mudo

Não penso em nada,

Apenas naquilo que analiso

E me empenho em conhecê-lo

- Às vezes não consigo.

É assim que eu saio do mundo real.

Volto, e saio quando quero,

E, às vezes, sem querer.

Simplesmente saio de mim

Olhando para o interior das coisas

As mais idiotas coisas que nem se imagina:

A cabeça, um cabelo, a ponta de um fio qualquer.

Meu foco é o interior de cada coisa.

O interior de tudo, que nada vejo.

(texto escrito em 07/10/1982)