Outono Infinito
É no cair das folhas do Outono que eu completo mais um passo diante do abismo imensurável
É inevitável
Mais um ano de vida
E já de vinda penso nas vidas que já vivi
Escolhas que escolhi
E poderia até ter feito diferente
Mas eu sou eu e eu serei eu para sempre
Desde que continue me arrependendo pelo caminho
E num cantinho da minha cabeça
Depois dos bosques, das garotas e da névoa
Onde o mapa não te leva, e só eu sei a direção
Eu vejo lá longe, uma chácara
Desço as planícies, sigo as ruas sem estrada
E percebo que há muito mais do que minhas falhas
Meus erros
Minhas culpas
Não me perdoo, mas peço desculpas
E já acomodado na minha caixinha
Incomodado com o que pensar de tudo isso
Eu vejo também, lá longe, uma fogueira
E na beirada dela, fotografias
Memórias de dias que eu já nem lembrava mais
E o passado, agora se fazia claro
Tão claro como a luz das chamas daquela fogueira
Agora, pensando bem, quieto por perto do fogo
Deve haver uma perfeita ideia em cada ser humano
E deve haver também quem tenha tido tal ideia de por ideias nas cabeças de todos
Então, imagino logo um construtor
Que com alguns tijolos faz um computador
Quem diria? Somos todos máquinas!
E se eu tentar bastante, consigo enxergar
Cada tijolo do meu caráter, eu vi o construtor construir
E de um em um, me tornei certeza
E até ele já não duvidava mais de mim
Ou pelo menos, não do todo
E o construtor admirava a construção...
É engraçado este lugar
Eu nunca disse de que cor era a casa
Mas você sabe que é vermelha
Eu nunca disse a cor da grama
Mas você sabe que é verde
E mesmo sabendo que é Outono
Imaginou árvores tão vivas que poderia sentir a umidade das folhas só de pensar
E se não havia tentado imaginar, agora enxerga
Quase como se eu estivesse dentro de sua cabeça
E poderia até parar por aí
Mas há mais palavras pela frente
E é curioso o divagar da mente
É aventureiro esse meu espírito
E tudo isso só dentro de mim
Por isso a caixa está fechada a muito tempo
Para que abri-la?
Se lá fora ninguém liga
Se lá fora ninguém...
Então percebo o meus erros
Troco sorrisos comigo mesmo
Danço ao redor das certezas que fabriquei ao longo dos anos
Questiono as estruturas do que me faz ser eu
Ponho as cartas na mesa
Os traumas e as incertezas
Culpo todo mundo
Culpo a mim
Culpo a ninguém
E guardo pra mim mesmo...
Até que eu ouça a voz que quer me ouvir e conversar
Pra sempre serei assim
Recluso
Preso nessas férias de Outono
Sozinho pelo Inferno
E no espreitar de cada manhã
Um bocejo anuncia o meu despertar
E eu tento, a cada dia, valorizar
O que me é mais importante
O que me resta...
Já é Outono de novo e não vai ter festa
E como as folhas que caem, eu também ando abatido
Procurando respostas no infinito
No infinito...