Que brincava nos delírios,

Ontem, hoje, amanhã

Entre murta, rosa e lírios,

No meio d’etéreos círios,

Nos brincos que a gente alcança;

Que sonho p’ra mim, que vida

Nas ânsias tão bem traída!

 

Que noites de tanta lida,

Nos gozos em que não cansa!

Hoje sou qual triste bardo

Cismando na virgem bela,

Nos meigos sorrisos dela;

Que, porém, já se desvela

Do futuro vir mui tardo!

 

— Pranteio na pobre lira,

Qual nauta que já suspira

Nas ânsias em que delira,

Nas chamas em qu’eu só ardo!

 

Amanhã serei no mundo

Perseguido em meu cansaço,

Sem já ter amigo braço

Que me ajude a dar um passo

Neste pego sem ter fundo;

Nem sequer a minh’amada

Se julgando mal fadada

Não virá mui namorada

Me mostrar um rir jucundo!