Insônia
Depois de tanta fumaça
talvez durma...
estranho esse
mundinho insone!
Um mundo de
pequenos ruídos
pés gelados
sobre a pedra fria.
Primeiro de tudo:
o som incômodo
do maço de cigarros;
papel e plástico.
Quantas vezes
risco o
isqueiro
a cada hora?
Primeira tentativa
fracasso, cansaço.
Levanto e vou
até o banheiro...
Segunda tortura:
a maçaneta é
medieval, range
mesmo movida com cuidado!
Volto pra cama...
mais um pedaço
de cigarro,
muito barulho.
O isqueiro corta
o silêncio
da madrugada...
raio na chuva fina.
O galo já começa
seu canto de despertar
e eu aqui, como ovo
fritando no colchão!
Próxima desistência,
o caminho é
a cozinha. Na escada
estalam os tornozelos.
Por que é tão impossível
ser silencioso?
Caminho um pouco
por essa estranha
casa em mudez,
tontura e desejo.
Subo a escada,
estalam os joelhos;
dessa vez ele
parece despertar...
Não há alternativas.
Busco o vidro de
calmante e...
estou na cama.
Ansiedade vai
partindo do corpo,
a mente fervilha
em construções absurdas.
Entrego-me ao delírio
da poesia, da música;
quase durmo,
de rompante desperto!
A filosofia toma
de assalto os pensamentos,
preceitos humanos
científicos e religiosos...
Entendo agora
que a insônia é
exemplo máximo
da condição humana.
Nascemos solitários,
crescemos buscando
o amor de alguém
e solitariamente insones
conseguimos dormir, enfim.
*Si*