Prisioneiro Verbal
Prisioneiro verbal
O que penso,
a pena decora
no papel
o que na memória
depois falha.
São traços
incertos, vacilantes,
que gravam rápidos
no anseio feliz
de nada se perder.
Pensamentos passam
voando,
como pássaros livres
chilreando palavras,
que despencam e
caem sobre mim.
Ao final
olho para o papel
e misturo tudo,
troco,
tiro daqui,
ponho ali,
apago aqui,
dou liga ali.
Minha pena,
às vezes tropeça,
na concordância,
no tempo verbal,
nas conjunções,
na métrica e
na rima falha,
mas já não tenho pressa.
Papel é pena perpétua.
O que veio ligeiro,
agora é prisioneiro verbal
para sempre deste mortal
que, quem sabe, um dia
possa fazer versos
dignos de um imortal.
Beto Gonçalves