A cidade da perfeição

Saio mundo afora pisando no asfalto

um peito igual minha rua, cheio de buracos

me protejo com o manto de um céu azul-cobalto

no reflexo das garrafas só restaram os meus cacos

Sinais vermelhos, carros, gritam multidões

fome, desespero, o ronco da barriga

lucro, pressa, ensurdeceram os corações

ganância, luxo e pra miséria ninguém liga

Busões mais lotados

que meus pensamentos

meus olhos ficam encharcados

Vendo tantos sofrimentos

É a marcha da boiada, e o pasto da ilusão

é a procissão do operário, e os falsários da fé

é o suor que é derramado, e o garantir do pão

é o joelho que se dobra, e a crença que fica pé

É o cacarejo alarmante, e a mochila nas costas

batalha das manhãs, metrópole Deusa vaidosa

É o peso do cansaço, e a dúvida nas respostas

É o tumulto solitário, e essa cidade misteriosa

É a linha do limite, animal encurralado

gritos de desespero, súplica sobrevivente

sociologia do egoísmo, povo desumanizado

Um mundo tão faminto, outro tão indiferente

Sinal verde pra fome, pensamentos ficam tortos

onde livros viram armas, crimes são ensinamentos

em escola do tráfico, se formam jovens mortos

na formatura do luto, mães fazem seus lamentos

Saio mundo afora pisando sobre ruas

desenhando no caderno a cidade nas palavras

deixando a voz livre, recitando poesias cruas

talvez esses meus versos removam suas travas

Vida, fé...

e ainda negam recomeços

Preconceito, julgamento...

e ninguém estende a mão

Que atire a primeira pedra...

quem nunca teve tropeços

Que se afogue no dinheiro...

os adoradores da cidade da perfeição

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 24/09/2023
Reeditado em 28/01/2024
Código do texto: T7893375
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