A cidade da perfeição
Saio mundo afora pisando no asfalto
um peito igual minha rua, cheio de buracos
me protejo com o manto de um céu azul-cobalto
no reflexo das garrafas só restaram os meus cacos
Sinais vermelhos, carros, gritam multidões
fome, desespero, o ronco da barriga
lucro, pressa, ensurdeceram os corações
ganância, luxo e pra miséria ninguém liga
Busões mais lotados
que meus pensamentos
meus olhos ficam encharcados
Vendo tantos sofrimentos
É a marcha da boiada, e o pasto da ilusão
é a procissão do operário, e os falsários da fé
é o suor que é derramado, e o garantir do pão
é o joelho que se dobra, e a crença que fica pé
É o cacarejo alarmante, e a mochila nas costas
batalha das manhãs, metrópole Deusa vaidosa
É o peso do cansaço, e a dúvida nas respostas
É o tumulto solitário, e essa cidade misteriosa
É a linha do limite, animal encurralado
gritos de desespero, súplica sobrevivente
sociologia do egoísmo, povo desumanizado
Um mundo tão faminto, outro tão indiferente
Sinal verde pra fome, pensamentos ficam tortos
onde livros viram armas, crimes são ensinamentos
em escola do tráfico, se formam jovens mortos
na formatura do luto, mães fazem seus lamentos
Saio mundo afora pisando sobre ruas
desenhando no caderno a cidade nas palavras
deixando a voz livre, recitando poesias cruas
talvez esses meus versos removam suas travas
Vida, fé...
e ainda negam recomeços
Preconceito, julgamento...
e ninguém estende a mão
Que atire a primeira pedra...
quem nunca teve tropeços
Que se afogue no dinheiro...
os adoradores da cidade da perfeição