O vazio
Olhos estes que me cercam
em um lugar do qual chamo de cela
que por dentro de mim fazem nascer velas
pois na escuridão me encontro
é uma imensa prisão ser aprisionada no próprio ser por tais palavras que desculpa mas não devo dizer
- por favor deixe-me ir, deixe-me queimar -
eu só os ouço falar, rir e festejar
nos momentos em que minha boca fecha,
meu coração sufoca e meu corpo implora por dor
mas não a dor que pensas,
esta dor já me compõe
estou falando da dor de sonhar, de rir demais, de amar e ser amado em dobro,
porque bom as dores de perder, machucar e ferir
ah essas sim eu já senti,
senti aqui dentro onde ninguém vê,
olhando de fora é difícil perceber
só não chegue perto, isso pode o querer, e quando quer faz você ligeiramente morrer,
morrer de viver
entende o que quero dizer?
você não entende tamanha magnitude de caos que aqui tenho que esconder,
neste corpo que parece ter sido feito somente para se mover,
pois bem sorria, até porque você choraria?
um silêncio e minha respiração,
minha cama, um soluço
embaixo dela todas as partes de mim que matei,
em cima dela todas as que continuo matando,
um belo par de olhos não pode destruir aquilo que já não tem
me machucar também não lhe convém,
não sentirá nada aqui, nada lá, nem ali
isso é o vazio,
deixe-me apresentar o nada que me contém,
o doce remédio chamado dor que já tomei
e todas as transfusões que já tentei
oh porque eu? foi o que pensei
o porquê de ser eu?
tudo faz sentido
errei o meu doutor
remédio errado
dose tripla de dor.