O fogo que na branda cera ardia,

 

O fogo que na branda cera ardia,

Vendo o rosto gentil que na alma vejo.

Se acendeu de outro fogo do desejo,

Por alcançar a luz que vence o dia.

 

Como de dois ardores se incendia,

Da grande impaciência fez despejo,

E, remetendo com furor sobejo,

Vos foi beijar na parte onde se via.

 

Ditosa aquela flama, que se atreve

Apagar seus ardores e tormentos

Na vista do que o mundo tremer deve!

 

Namoram-se, Senhora, os Elementos

De vós, e queima o fogo aquela nave

Que queima corações e pensamentos.

 

                    Luís de Camões