Quantas vezes...
As palavras saíram erradas
Da minha caneta... Da minha boca...
Ferindo feito navalha... Quando?
Deveriam estar contidas, represadas!
No recôndito de minha alma?
Quantas vezes...
Vivi atormentado... Acabrunhado,
desiludido e desamparado?
Com o coração pra lá de apaixonado...
Sem ser amado e correspondido?
Quantas vezes...
Eu não entendi o que estava ali...
E bobeei... Comi mosca e não vi.
Distraído... Não percebi...
Bem na minha frente... Na minha cara.
Quantas vezes...
Sofri de graça adiando os meus
"nãos" ao dizer talvezes ou sins...
Por puro medo de desagradar.
Falseei a minha convicção.
Quantas vezes...
Eu não acreditei em mim?
Fui convencido pelo fácil sim...
Ou pelo pessimismo de um não.
Que deformou a minha crença?
Quantas vezes...
Eu calei quando deveria falar...
Ou falei quando deveria calar?
Tive medo de corrigir uma injustiça...
Me omitindo a fazer justiça?
Quantas vezes...
Eu me enganei fazendo de conta...
Pré-ocupado em aparecer?
Fui hipócrita... Ao não impor...
O meu saudável querer?
Quantas vezes...
Me imobilizei quando à ação...
Pedia o movimento da razão...
Estar presente em comunhão?
Ouvindo a voz do coração.
Quantas vezes...
Eu menti pra mim mesmo...
Ao dizer que deixaria o vício?
Para que não me causasse malefício
E voltei atrás e fiz disso meu ofício?
Quantas vezes...
Me deixei levar pelas emoções?
Sim! Àquelas bem infantis...
Sem pé nem raiz. Deixando
minha saúde por um triz?
Quantas vezes...
Eu falei: Agora é a última vez!
E no minuto seguinte... Talvez...
E lá vou eu fazendo de novo.
Justo aquilo... Quanto desatino.
Quantas vezes...
Fugi de mim mesmo...
E nunca mais me reencontrei.
Corri atrás daquela palavra... Ideia...
Do meu mais belo sentimento?
Quantas vezes...
Eu uso e abuso dessa mania
de sofrer? Por antecedência?
Na véspera? Por impaciência.
Ou pura e simples demência.
Quantas vezes...
Dobrei esquinas.
Palmilhei calçadas...
À procura de nada?
Nas minhas caminhadas.
Quantas vezes fiz este tipo de exame de consciência?!
Hildebrando Menezes