A formiga

Hoje eu pisei numa formiga e a matei.

Ela não estava me fazendo nenhum mal.

Apenas senti vontade de pisá-la e pisei.

Fiz com ela o que venho fazendo comigo mesmo, dia após dia...

Colocando todo o peso que carrego comigo, em cima de um corpo frágil, talvez uma alma frágil.

Formiga tem alma? Não sei.

Mas eu tenho.

Me arrependi de ter matado a formiga.

Ela não tem culpa do que eu carrego.

O fardo é meu e somente eu devo carregá-lo.

Pobre formiga.

Não deveria ter sofrido o que sofreu.

Pensei na infinidade de coisas que ela ainda poderia ter vivido.

Então chorei.

Chorei por ela e por mim.

Pois se sou um assassino de formigas, sou também um assassino de mim mesmo.

Venho matando e morrendo todos os dias.

Todos os dias sou réu e juiz.

E como ser justo?

Não sei.

Mas a vida é assim mesmo, e mais formigas hão de ser mortas.

Oziel Celestino
Enviado por Oziel Celestino em 02/08/2023
Reeditado em 18/08/2023
Código do texto: T7851890
Classificação de conteúdo: seguro