A formiga
Hoje eu pisei numa formiga e a matei.
Ela não estava me fazendo nenhum mal.
Apenas senti vontade de pisá-la e pisei.
Fiz com ela o que venho fazendo comigo mesmo, dia após dia...
Colocando todo o peso que carrego comigo, em cima de um corpo frágil, talvez uma alma frágil.
Formiga tem alma? Não sei.
Mas eu tenho.
Me arrependi de ter matado a formiga.
Ela não tem culpa do que eu carrego.
O fardo é meu e somente eu devo carregá-lo.
Pobre formiga.
Não deveria ter sofrido o que sofreu.
Pensei na infinidade de coisas que ela ainda poderia ter vivido.
Então chorei.
Chorei por ela e por mim.
Pois se sou um assassino de formigas, sou também um assassino de mim mesmo.
Venho matando e morrendo todos os dias.
Todos os dias sou réu e juiz.
E como ser justo?
Não sei.
Mas a vida é assim mesmo, e mais formigas hão de ser mortas.