Poema etílico
Eu
Eu de todos os eus possíveis
Não fui outro
Fui nos meus excessos
A deformação de mim mesmo
Sucumbi às noites
Deitado em camas alheias
Às vezes
Camas estrangeiras, camas forasteiras
Acordei muitas tardes
Ainda bêbado e sonolento
Cigarros espalhados pelo chão da sala
No quarto
Um corpo que não conheço
Olho tudo e não reconheço o espaço
Bebo o resto de uma garrafa sem rótulo
Não
Não posso ficar
Saio à rua e não encontro
Meu eu
Que se perdeu nesse labirinto
Que me tonteia
Como se ainda bebesse
Meus outros eus misturados no
Copo de cachaça
De outra garrafa sem rótulo
Ao meu lado
O garçom de gestos e palavras gentis
Sorri e acena com a cabeça
Sinto que tenho um amigo distante
De volta à rua
Já não me tonteia a multidão apressada
Pego outro cigarro
E sigo pela avenida
Assovio baixinho uma linda canção
Nada mais importa