Eu queria

Eu queria

Queria tanto ser uma espiã silenciosa no trato com essa tão conturbada parafernália... Apenas uma transeunte que sentou na calçada para ver a banda passar comendo maçã do amor.

Queria usar óculos ray - ban para velar o que me dói nos olhos, fones nos ouvidos para ouvir só música da boa, e brincar de vaca amarela para não abrir a boca antes da hora.

Queria não salivar pensando em saborear doce de leite de colherada, e nem cheirar o desamor como um cão farejador.

Tatear no escuro, e encontrar um presente.

Queria achar justo tratar poesia como tabu, e compactuar com a burrice para ser mais inteligente.

Ter cabeça de anta e corpo de hipopótamo para ser fofa como uma gata persa, e não me despir da fantasia para ser violentada pela nua e crua realidade.

Queria pintar a cara de paisagem para não viajar de primeira classe na maionese, e ser unha e carne com o "to nem aí".

Pendurar no varal a minha intuição até vê-la secar como palha de feno, para esconder como agulha no palheiro, a minha lavada decepção.

Queria cruzar os braços para não abraçar o abstrato, e prender com grilhões os pés às pedras para não correr atrás de ilusões.

Atar as mãos com cordas toscas só para não ter que acenar adeus ao meu bem querer.

E ter pelo menos um olho.

Em terra de cego, aconselha-se observar o que o ministério da própria defesa adverte:

"Amar sem moderação é total desproteção".

Silvia M.N.Picchetto 💓

Silvia Picchetto
Enviado por Silvia Picchetto em 25/07/2023
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