Eu queria
Eu queria
Queria tanto ser uma espiã silenciosa no trato com essa tão conturbada parafernália... Apenas uma transeunte que sentou na calçada para ver a banda passar comendo maçã do amor.
Queria usar óculos ray - ban para velar o que me dói nos olhos, fones nos ouvidos para ouvir só música da boa, e brincar de vaca amarela para não abrir a boca antes da hora.
Queria não salivar pensando em saborear doce de leite de colherada, e nem cheirar o desamor como um cão farejador.
Tatear no escuro, e encontrar um presente.
Queria achar justo tratar poesia como tabu, e compactuar com a burrice para ser mais inteligente.
Ter cabeça de anta e corpo de hipopótamo para ser fofa como uma gata persa, e não me despir da fantasia para ser violentada pela nua e crua realidade.
Queria pintar a cara de paisagem para não viajar de primeira classe na maionese, e ser unha e carne com o "to nem aí".
Pendurar no varal a minha intuição até vê-la secar como palha de feno, para esconder como agulha no palheiro, a minha lavada decepção.
Queria cruzar os braços para não abraçar o abstrato, e prender com grilhões os pés às pedras para não correr atrás de ilusões.
Atar as mãos com cordas toscas só para não ter que acenar adeus ao meu bem querer.
E ter pelo menos um olho.
Em terra de cego, aconselha-se observar o que o ministério da própria defesa adverte:
"Amar sem moderação é total desproteção".
Silvia M.N.Picchetto 💓