Malditas métricas
A juventude floresce, envolta em romântica aura, embelezando alguns, porém, árdua para outros. Em algum lugar registrei que as borboletas no estômago não são sempre sinais da paixão em nosso ser. São as borboletas famintas, as que podem nos devorar pela fome.
A beleza de palavras não me pertence enquanto me lanço ao mundo. Quanto mais me entrego, mais o mundo me joga. E nesse embate de quem arremessa quem, alguém permanece e é capturado: minha poeta interior repousa em uma caixa lacrada, mas lá dentro ainda escreve.
Meu corpo é negro, faminto e poeta. Não escreverei sobre amor neste instante. Agora que me atirei ao mundo e abandonei minha escrivaninha. Escreverei com meu corpo e somente.
Métricas, rimas ou refinamento não moldarão o que aprisiono em minha garganta e em meu útero.
Meus poemas repousam numa caixa, contudo, anseio por fazê-los alçar voo, assim como meu corpo faminto e fêmea voa e flutua pelo ar.
Ser poeta é um ato político, cutucar feridas é abandonar as amarras da métrica, da rima, das convenções. É perturbar com palavras que ninguém espera ouvir de uma poeta.
Assim, se forja uma poeta maldita. Aquela que ninguém deseja escutar, pois não se enreda em utopias. Ela pisa na terra, lança seu corpo e arrisca-se a receber as piores agruras por proferir as verdades evidentes de ser poeta: a poesia não visa a agradar.
Meu corpo negro lançado ao mundo, enquanto poeta, não chega para romantizar.
Embora arrisque as métricas e rimas viciantes em minha escrivaninha, meu corpo escreve sobre mim sem falar.