Dilema de um poema que termina em samba
São José, SC, 21/06/2023, 06h28.
Algo em mim - não sei bem - habita
e nunca saberei seu nome,
sei apenas que me grita
que tem sede, frio e fome.
De longe a gente se avista
e eu temo que me tome
a única flor que não some
de minha alma aflita,
que já mal trabalha e come
porque está em infinita
guerra que me consome:
viver como um parasita
ou renascer como homem?
De dia faço-me artista,
de noite sou lobisomem,
mastigando criptonitas
p'ra cuidar de um super-homem
que não me salvou de inaudita
combustão de um sobrenome,
como uma herança maldita,
a me deixar mais insone
em cada adeus que me dita,
mas não serei sua conquista,
porque a Deus este Tony
entrega tudo que insista
em cegar-lhe a própria vista:
ó musa, não sou um clone
de insuspeito vigarista,
um anjo nem um ciclone
a desafiar cientistas,
apenas ando cansado
de cantar o mesmo fado
enfadonho e pessimista.
Eu quero é deixar de lado
o fardo de ser teu bardo,
ó confusa musa intimista,
pois tu me deprimes enquanto
não te pago pelo canto
com que me inspiras a lista
de palavras malabaristas.
Quero menos cordas bambas
e mais sambas altruístas,
que me esvaziem a mente
e ponham a gente na pista
p'ra dançar com alegria
a chegada do novo dia.
Sê de mim, musa inquieta,
também alma de poeta
e em nós dois liberta
a esperança, que vem certa...