A FALA DA MEMÓRIA
Chamamento aos rumos,
o poema é o teu vocativo:
a pedra e o pó das coisas.
É depoimento, marca.
Chaga espiritual, arraso por dentro.
É voz remissa de cansaços,
memória.
Lambuzo do carinho de sempre.
Noturno, mas não notívago.
Também é registro
o respeito de quem trabalha
a palavra. E sofre com ela.
Incomum é o gozo.
Quando este vem, o amor fatigado
já roubou a melhor fatia.
Não dá tempo nem de haurir o perfume.
Arfar o cansaço, abrir as ventas:
touro bravo, aspas de nuvens.
E o futuro à espreita.
Feito um arqueiro mudo.
– Do livro BULA DE REMÉDIO, 2007/2009.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/781210