Sopro e violência

Todo dia o vento vem e me desbasta!

Daí chuva vem lamber a ferida.

O lembrete é meu umbigo,

minha primeira cicatriz!

Tudo é violência!

Quando eu nasci havia sangue!

, na minha primeira luz veio um corte,

me separou,

me fez único,

tive frio e solidão.

O amamentar machucava minha mãe!

Aqui estamos nós, todo dia é o mesmo preço.

Escarificações não consensuais,

tatuagens em alto relevo,

a retificação do vivenciado!

Umbigo,

, ombro

, joelho

, queixo

, sobrancelha

, cabeça

e coração.

repito, tudo é violência!

Envelhecer é um queloide de incontáveis trocas de pele.

Tudo dói:

amar!

mudar de ideia!

acabar o prazer!

Nunca fica mais fácil,

então vem o cansaço...

a inviabilidade do trabalho.

O sistema falha em cascata.

as cicatrizes enferrujaram as engrenagens

uma psoríase invade a hidráulica.

Um dia soa o alarme

e tudo se apaga.

O vento finalmente cumpre seu papel.