A poesia não está morta
O poeta não morreu
eu enxergo seus entalhes
A poesia não morreu
ela habita nos detalhes
Entre o pegar do transporte
e o medo de se atrasar
o som da maré dos carros, soa forte
acompanhando a valsa do trabalhar
Mas na pressa da cidade
quem tem tempo para respirar?
No meio de tanta intensidade
o pulmão quase não sente o ar
O poeta não morreu
nós que ficamos dispersos
A poesia não morreu
nós que paramos de respirar versos
Apenas um ecoar de palavras mesquinhas
ninguém fala mais com o coração
ninguém para pra olhar pelas entrelinhas
nossas ruas fedem, exalam pressão
Nesse tudo tão agora
é sempre um precisar nesse instante
é sempre um faltar de hora
não acham isso agoniante?
O poeta não morreu
nós que estamos ocupados
A poesia não morreu
os versos que não são escutados
Não há tempo para ser
nos prendemos em armários
não há tempo para viver
somos reles maquinários
Não há tempo para a mente
nos vendemos parte a parte
não há tempo pro que se sente
o que fizemos com a arte?
Foi você que se esqueceu
mas versos fluem pela aorta
o poeta não morreu
a poesia não está morta