A poesia não está morta

O poeta não morreu

eu enxergo seus entalhes

A poesia não morreu

ela habita nos detalhes

Entre o pegar do transporte

e o medo de se atrasar

o som da maré dos carros, soa forte

acompanhando a valsa do trabalhar

Mas na pressa da cidade

quem tem tempo para respirar?

No meio de tanta intensidade

o pulmão quase não sente o ar

O poeta não morreu

nós que ficamos dispersos

A poesia não morreu

nós que paramos de respirar versos

Apenas um ecoar de palavras mesquinhas

ninguém fala mais com o coração

ninguém para pra olhar pelas entrelinhas

nossas ruas fedem, exalam pressão

Nesse tudo tão agora

é sempre um precisar nesse instante

é sempre um faltar de hora

não acham isso agoniante?

O poeta não morreu

nós que estamos ocupados

A poesia não morreu

os versos que não são escutados

Não há tempo para ser

nos prendemos em armários

não há tempo para viver

somos reles maquinários

Não há tempo para a mente

nos vendemos parte a parte

não há tempo pro que se sente

o que fizemos com a arte?

Foi você que se esqueceu

mas versos fluem pela aorta

o poeta não morreu

a poesia não está morta

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 18/05/2023
Reeditado em 18/05/2023
Código do texto: T7791403
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