CLONAZEPAM

Dessa dor que corrói os últimos resquícios de sensatez,

eu entendo.

Do sufoco inquieto tão de repente,

eu também entendo.

Dos riscos avermelhados pelo corpo,

Da ausência do sentir,

da constante e infinda insônia,

eu entendo.

Da falta de pressa,

de verdade,

de promessas,

de futuro,

disso,

eu também entendo.

Da vaga solidão na madrugada,

Do estar junto,

mas estar só,

Da falta de libido,

de vontade,

de paixão,

Da imaginação exacerbada,

sim,

eu tenho inegável compreensão.

Das palpitações ininterruptas,

das feridas abertas,

dos sonhos fluídos,

E do amanhã que nunca chega,

eu,

paulatinamente,

entendo.

Talvez eu não quisesse,

mas pudera eu apenas não querer.

Talvez seja só de passagem,

assim como a vida,

tão breve.

Talvez sejam apenas efeitos colaterais

daqueles dois mg.

Talvez seja,

agora,

apenas saudade.