Embora
Se soubesse o que queria, não queria tanto
A vida me causa espanto
Mas sou ferro forte no forte de Copacabana
Parado, não saio da cama
Que vida é essa que se vive?
Para que se vive?
Viver é ser poeta livre?
Ninguém mais faz poesia do que se vive
Quem é poeta ficou no passado
Na época do condado
De palavras era bem armado
Era na vida, um nobre soldado
Já não existe aquele tudo que se via
Fernando se nascesse hoje, não escreveria
Sinto pena se hoje conhecesse Cecília
Machado, de mim não se orgulharia
É tudo tão pouco, tão volátil
Pessoas tão retrátil
Nenhum porta retrato
Que cofre guardas intacto?
Não existe mais a virtude velha anciã
Liquidez, já disse Bauman
Só se vive a vida no Instagram
Postam hoje, não se lembram amanhã
Tudo tão difícil de ser alcançado
Não existe mais sonhos,
Além do que já foi sonhado
Todos deixam a consciência de lado
E tu poeta? O que fazes dessa vida?
Fosse tu um engenheiro de obra falida?
Um enfermeiro com simples seringa?
Um marketeiro, que vende poesias?
Nada tão simples
Nada é tão simples
Os pássaros ficam quando se tem alpiste
E vão embora se o alimento não existe.
Só que alimento minha alma com o possível
O corpo vai, o espírito é invencível
Só que sou tão frágil, tão passível
Meu tempo é curto, tão factível!
Ah, vida, quem dera fosse outrora
Só que só se vive agora
E faço poesias sonoras
Para deixar algo, quando for-me embora!