Na madrugada
Quero a beira da água que me lamba a barra da saia e carregue consigo as sombras...
Que no descompasso do coração, se desvaneça a vida, cansada do labor de tecer...
Que venha o descanso que anestesia a alma e emudece o sentir...
Que ela, nas dobras do tempo se deite e pare de pulsar...
Pois que em todas as labutas a força ali estava, altaneira e firme
Mas suas asas, diáfanas, denotavam fragilidade no esgarçar de sua contextura
Dolorido bordado, a revelar em seus rasgos as batalhas diárias
Travadas no âmago do ser, entre o humano e o sobre-humano que compõe a vida
Quero deixar-me ir, em doce abandono.
O silêncio sobrepuja o sussurro que se ouve ao longe, lá por dentro...
O socorro e o alívio, misturados em fluida essência,
constituem onírica poção que serve aos propósitos de calar-me.
Cessam-se os sons.
A imobilidade desata os nós que, apertados,
sufocavam o fluxo das ideias. Elas também são detidas.
Ao final, tudo se esmaece lentamente.
Desaparece.
E finda.