Um pastoreiro me contou

Um pastoreiro uma vez me contou

que nem mais o leite e nem lã

adornará o homem já aquecido.

Disse que a vida quente e vã

não embebedará o ser esquecido.

A tênue linha da vida e da morte

escorrendo nas pragas do prado,

percorrendo a incerteza e a sorte.

O leite das vacas irá ressecar,

as ovelhas irão da existência

fugir, e o dilúvio do além-mar

desalmar o pastor da leniência.

É assim o pasto das coisas,

um dia temos o céu brilhando

noutro, colheitas afoitas.