Algum lugar ao qual eu pertença

Tenho um buraco no peito

só que não lembro quando surgiu

muito menos faço ideia de como foi feito

mas nem sempre houve esse vazio

Sei que gerei mundos na imaginação

sei que descrevi incontáveis universos

meu caderno registrou cada criação

minhas histórias, meus versos

Lembro de pertencer

lembro de ter um lugar

e então, um desaparecer

e então, passei a sobrar

Vaguei por todas direções

fiz esforço pra me misturar

dei chance as relações

busquei um algo para participar

Me treinei pra ser sobrevivente

fiz do coringa, minha carta

me tornei adaptável a todo ambiente

um ateniense vivendo em Esparta

Tentei me moldar

abdicando do meu ser

fiz tudo para me encaixar

fiz tudo para pertencer

Me lancei na multidão

atrás da verdadeira companhia

mas ninguém conseguiu roubar minha solidão

ninguém preencheu minha alma vazia

Uivando no deserto da vida

solitário lobo, em sua odisseia

pobre fera de alma ferida

clamando por sua alcateia

Senti o nada, o frio e a dor

dos meus olhos, veio o chover

em cada gota, o calor

em cada gota, o sofrer

Ainda sem respostas, mas procurando

uma fé pra minha descrença

ainda sem destino, mas buscando

algum lugar ao qual eu pertença

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 21/11/2022
Reeditado em 21/11/2022
Código do texto: T7655061
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