Algum lugar ao qual eu pertença
Tenho um buraco no peito
só que não lembro quando surgiu
muito menos faço ideia de como foi feito
mas nem sempre houve esse vazio
Sei que gerei mundos na imaginação
sei que descrevi incontáveis universos
meu caderno registrou cada criação
minhas histórias, meus versos
Lembro de pertencer
lembro de ter um lugar
e então, um desaparecer
e então, passei a sobrar
Vaguei por todas direções
fiz esforço pra me misturar
dei chance as relações
busquei um algo para participar
Me treinei pra ser sobrevivente
fiz do coringa, minha carta
me tornei adaptável a todo ambiente
um ateniense vivendo em Esparta
Tentei me moldar
abdicando do meu ser
fiz tudo para me encaixar
fiz tudo para pertencer
Me lancei na multidão
atrás da verdadeira companhia
mas ninguém conseguiu roubar minha solidão
ninguém preencheu minha alma vazia
Uivando no deserto da vida
solitário lobo, em sua odisseia
pobre fera de alma ferida
clamando por sua alcateia
Senti o nada, o frio e a dor
dos meus olhos, veio o chover
em cada gota, o calor
em cada gota, o sofrer
Ainda sem respostas, mas procurando
uma fé pra minha descrença
ainda sem destino, mas buscando
algum lugar ao qual eu pertença