Sonetos
Ergo um brinde farto à tarde insana,
com o seu inferno de nômades no saara
da cidade pobre e refém da grana,
cuja gana de lucrar jamais pára.
Há uma doença maior que nunca sara:
é a disfuncional existência humana!
É uma doença perigosa e cara,
cuja cura é fugir da turba insana.
Ergo um copo à possessa juventude,
nova demais para arder sem saída,
velha demais para adiar a virtude.
Ergo um copo a essa louca vida,
e quem quiser que busque a completude
num copo no Bar da Causa Perdida.
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A vida, a vida é vaga e imprecisa
como uma folha livre na imensidão
vagando de lá pra cá pela brisa,
desconhecendo qualquer direção.
A vida é aberta e livre, não precisa
de vão apelo ou justificação,
e é só no abismo que se realiza,
o resto é medo, fuga, escravidão.
Essa folha no ar, perdida e incerta,
plana no espaço, dança no ar aflito,
abre a porta e encontra outra aberta.
A vida, ante o horizonte irrestrito,
sabe que só há uma coisa certa:
ser chave e abrir as portas do Infinito.