ANDARILHO

Numa caminhada com destino certo

Vive o homem com medo de chegar

Com o desejo de que seja longa

A ponto de não terminar

Chega tenro como semente que brota

Mas sentindo-se imortal

No primeiro tropeço descobre

A vida não é só mingau

O imortal absoluto

Vai aos poucos se iludindo

No mundo da dualidade

Um ser mortal vai surgindo

A essência imortal

Numa perecível embalagem

Nela passa a perceber a finitude

E temer pela viagem

Jornada individual e única

Ainda que em multidão

Podendo está acompanhado

Ou em completa solidão

Passadas longas ou curtas

Sonhos realizados ou não

Vitórias e tropeços

A burilar o coração

Não faltará promessa de um ditoso céu

E um inferno para amedrontar

Muito cuidado com esse terreno

Para depois não lamentar

Não sou andarilho bem sucedido

Nem conselheiro de ninguém

Não tenho receita pronta

Para trocar por vintém

Na minha caminhada aprendi

E sem medo posso afirmar

São os espinhos que nos ensinam

Onde melhor pisar

Não sou de arrotar santidade

Nem vestir capa de virtude

Na minha jornada de errante

Caminhei com pude

Nas molduras que me criaram

Sou santo, sou demônio, sou esquisito

Nessa última encaixa-se muito bem

O personagem finito

Não confundir-se com a embalagem

Essa é a grande missão

Aprender que a finitude é passageira

Nesse mundo de ilusão

João Pessoa, 20/08/2022

Antônio Ribeiro

ANTÔNIO RIBEIRO
Enviado por ANTÔNIO RIBEIRO em 06/10/2022
Código do texto: T7621477
Classificação de conteúdo: seguro