Em cima do muro

Não gosto de gente

que fica no meio, entalada.

Gente mesóclise

que não sabe se vai

ou fica em casa

gente que não sabe

se só escreve

ou faz música cantada

ou se estende a roupa

ou deixa molhada

como a saudade

deixa-nos ao escorré-la pela cara

não sei se posso chamá-las de falhas

até porque eu me divido

entre amar a lua ou o sol que se passa

na varanda de minha casa

Não darei adjetivos lindos

para quem os ouvi-los

não deem por mim a causa ganhada

gosto do mistério que se causa

pois a vida sem ele

não há nem pelo que levantar da cama

e vestir as calças

tão pouco lavar a cara

com a água que não tira

a sujeira da nossa alma

para curar essa, laudra

e mais laudras

da mais excelsa nata

corrijo-me

é vergonha na cara

se olhar no espelho

e se reconhecer como nada

que a vida é breve

quanto a flor que ontem era semente

e hoje é pelo outono decepada

bem em nossa frente

da nossa cara des-lavada

que é por nós

"tão docemente"

levada.

Poesia das ideias
Enviado por Poesia das ideias em 22/09/2022
Reeditado em 22/09/2022
Código do texto: T7611655
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