Em cima do muro
Não gosto de gente
que fica no meio, entalada.
Gente mesóclise
que não sabe se vai
ou fica em casa
gente que não sabe
se só escreve
ou faz música cantada
ou se estende a roupa
ou deixa molhada
como a saudade
deixa-nos ao escorré-la pela cara
não sei se posso chamá-las de falhas
até porque eu me divido
entre amar a lua ou o sol que se passa
na varanda de minha casa
Não darei adjetivos lindos
para quem os ouvi-los
não deem por mim a causa ganhada
gosto do mistério que se causa
pois a vida sem ele
não há nem pelo que levantar da cama
e vestir as calças
tão pouco lavar a cara
com a água que não tira
a sujeira da nossa alma
para curar essa, laudra
e mais laudras
da mais excelsa nata
corrijo-me
é vergonha na cara
se olhar no espelho
e se reconhecer como nada
que a vida é breve
quanto a flor que ontem era semente
e hoje é pelo outono decepada
bem em nossa frente
da nossa cara des-lavada
que é por nós
"tão docemente"
levada.