AFINAL, O QUE HÁ?
Há os que vivem antes de nascer
e os que morrem antes de viver.
Há os que nunca vão embora...
e os que chegam sem agora.
Há os que aqui nunca ficaram
pois aqui sequer chegaram.
Há os que descansam nos castelos
e os que se cansam nos rastelos.
Há os que se aquecem nos aplausos
e os que se esfriam pelos claustros.
Há os auto condecorados
e os que se ungem só com trapos.
Há as lágrimas do teatro
Dentre lágrimas só de aço.
Há a soberba engrandecida
E a verdade estarrecida.
Há os enrolados em plumas
A se esconder na própria bruma.
Os que encenam olhos abertos
Aos que vivem encobertos.
Os que se deitam nos deleites
E os insones... sem enfeites.
Os que batem sobre o peito
E os da dor do já desfeito.
Há os que gozam dos destinos...
Sem doer por seus arrimos.
Muitas vidas absolutas
mas que jazem moribundas.
Há coroas bem brilhantes
E as que nunca serão grandes.
Há os que nunca perceberam
que há os que sentem desespero.
Há o grito do não sido
frente ao engano concedido.
Há os que vivem para sempre...
dentre as mortes indigentes.
Há os que juram ser eternos
mesmo sendo o todo etéreo.
Multidão sempre a procura
das promessas aos pés das urnas.
Há os que vão pra todo o sempre
sem a condição de gente.
...e há os tão pouco construídos
com o muito subtraído!
Há enfim... um sol incerto...
A aquecer todo o deserto.