INCERTEZAS
”Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
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e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.”
(Allan Poe)
Não tenho ilusões nem fantasias
Os sonhos já se foram desde então...
Se hoje vendo algumas alegrias
É pura brincadeira da razão....
São tantas tempestades – ventanias
E tanta névoa, abismo, escuridão
Foram morrendo logo aqueles dias
Palavras nada fazem mais – sim não...
A vida me ensinou da pior forma
Que o qu’é tão ruim, é a bondade
E quem não se encaixa nessa norma
Termina se esvaído de vontade...
São tantas propagandas e promessas
E tantos dogmas – tantos paradigmas
E os atores vivem suas peças –
Todos sonhando vidas belas, dignas...
A minha alma agora é um deserto
O coração está despedaçado
E caminhando assim meio incerto –
Aonde aquele sonho almejado?
O que esperar do novo amanhecer
Se o gosto insosso amarga pela boca?
O obsoleto estando por nascer –
A fênix da esperança está louca...
Mas que adianta assim se lamentar?
Se os demônios – esses dementadores,
Querem levar a estrela a cintilar
Deixando talhos n’alma e bolores...
Mas esse vale – esse grande abismo
Tem sombra apenas – sombras nada mais!
E uma brisa cheia de cinismo
Querendo, então, roubar a minha paz...
Procuro olhar o meu itinerário
Sem energia já – e muito lasso,
Assim sozinho vago solitário,
Eu vou seguindo, então, meu passo-a-passo...
Disseram-me que a morte é uma certeza,
Eu não concordo; pois esta é o fim!
Sonhei, talvez demais – e à minha mesa,
Chegou-me um pesadelo grande assim...
Tanto tormento pelo meu caminho
As lágrimas não cessam – e eu tento,
Mas busco a amizade e o carinho
E ofereço amor e o meu alento...
As nuvens pelo céu estão escuras
Eu sei a tempestade se aproxima
Mas busco as virtudes – formosuras
Olhando além das nuvens – logo acima...
Enxergando demais – a vida ensina
No quê acreditei – será, foi vão
Mas rompe-se um ovo – e muda clima
E como muitos vivem de ilusão...
29/11-01/12/07