Retrospectiva: as roupas das estações.

Em Março estava escrava,

vestida de razão,

coberta de desejo e nos pés:

calçados feitos de pele de mim mesma.

Em Junho me estranhei e me olvidei.

Percebi sobre mim um chapéu que desconheço,

um tecido de ansiedade e bordados de passado.

Eis que estava escrito:

na certeza do presente,

a minha floresta jaz, ardente.

Em Setembro me vi invencível,

armada, até os dentes:

de ódio, raiva e outros pensamentos descontentes.

A roupa da vez? Solidão.

No início de Outubro despi-me das pessoas e

Contei-lhes uma mentira: “está tudo bem”.

Testei as fases da água em meus olhos.

Deixei a tristeza passar do abstrato

para o estado líquido,

a saudade se converteu em lágrimas.

Autoria: Cláudia Valéria/ Kakal (@claudia.valeria.kakal)

Cláudia Valéria Kakal
Enviado por Cláudia Valéria Kakal em 26/07/2022
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