RESCALDO DA RIMA VAZIA

Rescalda-se o fim da Paz

Na terra do "tanto-faz"!

São altas as labaredas

Do tudo que se verseja.

Rescaldo da mata virgem

Dum chão com arma em riste.

Do rio sem devaneio

Vertente do que não veio.

No veio da Natureza

Rescaldo do que se enseja.

Rescalda-se o tempo perdido...

No fogo já consumido.

Rescaldo da fé já ida

Em meio às vidas perdidas.

Rescalda-se boas intenções!

No seio das orações.

Rescalda-se a Esperança

Tombada, sem aliança!

Rescaldo do fogo fátuo

Do que ficou "de lado"!

Do tudo que está em luto

Rescaldo do falso discurso.

Rescalda-se as labaredas...

Das vidas pelas sarjetas.

Da vozes que só enganam

Que só a si conclamam.

Rescalda-se a dignidade

Da Vida pelas cidades.

O ar tão poluído

Rescaldo dos tantos vícios.

O lixo é rescaldado

Do tudo que é inválido.

Rescaldo do pio tênue

Dum BEM-TE-VI que geme.

Dum sol que já sem brilho

Levanta-se qual andarilho.

Rescalda-se no amanhecer

A vida a perecer.

Rescaldo da noite densa

Que desce sem ter clemência...

...No verso que sem alento

Foi só palavra ao vento.

Rescalda-se toda a agonia

Queimada na farta orgia!

O rumo que se perdeu

Porque não se aprendeu.

Perene verso fugaz...

Selado no "tanto faz'!

Cenário nunca etéreo

Rescaldo dos tantos infernos.

Rescaldo que já não rima

Com tudo que se queria.

São cinzas nunca voláteis

Passivo dum grande desastre.

Rescaldo do amor na dor

Da brasa, também da flor.

Poesia que hoje em dia...

Rescalda só rima vazia.