UM ANOITECER



Chove frouxo na sacada.
A velha vela da cadeira;
e a chuva enxurra calha abaixo.

Foge a moça na calçada.
O chão desliza de sujeira;
e a água encalha na sarjeta.

Olha a dama da janela.
O guri cachimba e chuta;
e o cão chafurda a esquina.

Vem o escuro de cinema.
A estrada aflige os olhos
e o filme não termina.

Meia luz no sexto andar
revela um clima romance.
E a loura lá no quarto
já não trepa como antes.

Enquanto o poeta espreita
à porta do paraíso,
a pena procura o espelho
e finge versos sorrisos.