DESFRAGMENTADO
Vejo-te contemplar a vista da janela
Um olhar distante panorâmico se perde na atmosfera
Olhar atômico
Absorto
Disperso
Rarefeito sistema que insiste em se sustentar no abstrato
Imperfeito dilema que desiste de se solucionar em qualquer anonimato
Seus pés flutuam em cordato
Movimento impensável até pra mim que vigiava seu instante privado
Onde estás agora?
Por qual estrada imaginária te encontras despojada?
Salvo conduto não apresentastes
E em suave ilusão perambulas sem teres licença pra tal ato
Não consigo desvendar tua feição
Teu rosto desfragmentado em insinuantes evidências do cenário
O que te aconteceu pra que fosses embora e apenas deixasses seu corpo embalsamado
Estático e sem vida?
Entro pelas portas do teu olhar e tento te achar
Mas antes que eu desse o primeiro passo o visgo que me prendeu a você se faz de armadilha para o rato
Preso e sem escapatória
Prisioneiro mentecapto
Nem me passa pela cabeça como conseguiste tal ato
E agora vagas por um labirinto indecifrável e eu a buscar seu paradeiro
Tentando acelerar as contraçõees e expelir em inusitado parto tal intersecção que poderia dar um fim a esse fracto ser desconjuntado
Mas nem que eu misturasse paradoxo e paradigma
solução ao invés de enigma
Eu seria um tal Sherlock Holmes desse caso
Mas prossigo nessa busca
Mesmo tendo imenso descaso
pois já não se trata de você em pedaços
rebuscados
debulhados
Mas da exatidão que toma conta desse meu ser inventado
Da singela força que tenta fazer a coesão dos retratos
Enquanto eu disfarço
componho
E tento te reconstruir em retalhos
Na busca do que restou e ficou
Costuro essa colcha de cetim e estopa
enquanto sinto teus lábios a me insulflar devagar
Com um demorado beijo boca-à-boca