Cinzas
Eu não me cultivo mais nesta terra sem fim
Aqui nesse pequeno mundo
Pareço grande demais para estar nele
Não consigo me sentir a vontade para ser quem eu sou, seja lá quem eu for
Acho que perdi umas peças de encaixe e não consigo mais ser uma parte
Eu ainda tenho sonhos, mas eles ficaram perdidos em um grande labirinto de ilusão
Não vejo sinal de justiça ao ter que lutar com um minotauro montado em um dragão
O portal cobra muito caro para a sua passagem
Há gritos ecoando salas e choros fazendo viagem
O suplício de uma vida sofrida já indo tão tarde
Depois de entender que o agora é apenas uma paisagem
Eu já não me espelho mais como alguém daqui
Radiação cósmica de fundo
De um universo que não é mais o mesmo
Não acredito nas palavras do que do que um dia se ensinou, nenhum livro sobrou
Agora o devir precipita-se em ruínas etéreas sem base nem estandarte
Aqueles rios longos secaram em terras rachadas do sertão
Não ensejo uma morte assistida, mas sei que os sacrifícios passam na minha televisão
Que o vento leve as cinzas
Daquilo que o tempo fez de mim
Que a luz carregue um sopro ainda
De um momento que eu não quis partir