Vida Longa! - coletânea
Vida Longa e Morte Rápida!
Como disse Mário Quintana: "Um dia...Pronto! Me acabo. Pois seja o que tem de ser. Morro: Que me importa? O diabo é deixar de viver!".
Há que se ter medo do sofrimento e da dor, mas não da morte, pois ela é inexorável e morrer é tão somente voltar ao estado de antes de nascer. Há, portanto, que se cuidar da saúde para garantir longevidade e boa qualidade de vida. Para tanto basta praticar regularmente atividade física, ter alimentação saudável, atividade mental elevada e atividade sócio-cultural estimulante. No mais, vida longa venturosa e morte rápida para todos nós!
Ao Apagar da Velha Chama
Ao apagar desta velha chama
Depois da missão já cumprida
Desvencilhar-me-ei da trama
E sairei desta para outra vida
Ao fim desta terrena odisseia
No além exclamarei extasiado
Que incrível e fantástica ideia
De viver um tempo encarnado
Agora a eternidade faz sentido
Para curar-me do eterno tédio
O livre-arbítrio me é concedido
E a reencarnação é o remédio
Sem pecado o eterno é insosso
E a eternidade perde o sentido
Prefiro pois ser de carne e osso
Que seria de mim sem a libido?
De Volta ao Futuro
Dizem que a gente volta à infância
Já estou sentindo-me um menino
Nem tão grande dele é a distância
Menor é a de mim ao meu destino
Não cheguei ao fim desta odisseia
Porém aqui já exclamo extasiado
Que mais incrível fantástica ideia
A de passar um tempo encarnado
Estive no destino antes de nascer
Agora já não mais tateio no escuro
De susto, bala ou vício vou morrer
Para me colocar de volta ao futuro
Sonhos materialmente pequenos
Porém espiritualmente gigantes
Não é que agora eu sonhe menos
Porém bem melhor do que antes
Agora a eternidade já faz sentido
Para que me cure do eterno tédio
O livre arbítrio já me é concedido
Tenho meu retorno como remédio.
Chegança
Cheguei ao futuro que vislumbrei
Agora ele é o presente que tenho
Que fosse chegar aqui eu duvidei
Porém jamais me faltou empenho
Cheguei aqui sem fruir o caminho
Agora quero a minha vida intensa
E fruir a poesia melódica do pinho
Porque essa é a doce recompensa
Cheguei, porém sigo a caminhada
Pois sou da vida o eterno aprendiz
Não encerrei ainda minha jornada
Deixo aflorar meu dom de ser feliz.
Satisfeito
Muito há que por mim pode ser feito
Mas ainda assim já me dou por satisfeito
Contudo, se me derem mais, eu aceito
Se aqui tudo se encerrar, está perfeito
Tudo que fiz não faria de outro jeito
Contemplo tudo e com tudo me deleito
Estou pronto e em festa está meu peito.
Minha Melhor Idade
Dizem que envelhecer
É voltar a ser criança
Pode até não parecer
Mas há a semelhança
A minha melhor fase
Foi a distante infância
Lá está a sólida base
De suma importância
Pois o que sou agora
Devo bem ao que fui
Idoso muito embora
Esta infância me reflui.
Valha-me Velho!
Já quase nada valho
Pois estou ficando velho
A artrose quase me mata
Acho que não atinjo a meta
Já me falha até o tato
Que não me falte o teto
Se se volta à infância de fato
Já estou me sentindo um feto.
Meu Melhor Tempo
Longe vai o tempo dos sanduíches
Esportes radicais, outras aventuras
Já não posso nem escalar beliches
Evito riscos e não ando às escuras
Mas hoje consigo até ler Nietzsche
Tornou-me claro o incompreensível
Algumas manias e nenhum fetiche
Um pouco cético, creio no tangível
Impressiona-me toda a tecnologia
Já que sou do tempo da manivela
Mas vislumbrara tudo isto um dia
Porque já viajava na catódica tela
Não tenho tamanho vigor no coito
Levo agora o cansaço para o leito
Comedido não sou mais tão afoito
Agora já me encontro mais afeito.
Imunidade Anciã
Agora me tenho atrás das cãs
Não careço engolir tanto sapo
Pois dei início às fases anciãs
Agora é história e outro papo
Justifico-me por já estar senil
Vi-me livre dos chás de fralda
Solenidades e a postura servil
No mais a idade me respalda
Adquiri o direito a ter manias
Cometer gafes e ser ranzinza
Já não consideram anomalias
Iminência de tornar-me cinza
Em todo lugar me são solícitos
Poupam-me de filas e esperas
Imune à imputação de ilícitos
Imune às ilusões ou quimeras.
Velhescência
Estranha faixa etária
Não se é jovem nem idoso
Condição física precária
Dos planos e da libido saudoso
Novo para ser prioritário
Velho para esportes radicais
Diz ter sido um legendário
Num tempo que não volta mais
Vive em crise existencial
Assim como um adolescente
Com hipertensão arterial
Menos rebelde e mais demente
Artrite, artrose e gastrite
Gafes e lapsos de memória
Entre crises de labirintite
Leva a vida contando história.
Meu Filme
Eh, aqui estou sem grana e sem fama
A companheira jamais foi só a fêmea
Tenho completo o roteiro de um filme
Não tive grandes privações nem fome
Hoje não corro, não bebo e nem fumo
Evanescente
Meu tempo já se esvai
Percebo-o em meu divã
Das filhas mais que pai
Tornei-me o seu maior fã
Hei de partir em paz
Bem melhor do que fiz
Minha prole hoje faz
Dela me tornei aprendiz
Eis o tempo da colheita
Do que plantei de manhã
Pois a noite me espreita
Não a vi chegar no meu afã.
Meus Heróis em Mim
Hoje em mim reconheço meus pais
Vejo seus retratos no meu espelho
Passaram de mitos a seres mortais
Sinto a falta do seu sábio conselho
Pouparam-me de suas vicissitudes
As minhas atuais lágrimas furtivas
Revelam uma das nobres atitudes
Dentre muitas nas horas decisivas
Reverencio meus humanos heróis
Agora percebo a sua humanidade
Nortearam-me a vida como faróis
Almejo deles a mesma dignidade.
Tempo de Colheita
Longe vai meu tempo de plantio
Já me veio o tempo de colheita
Queixar-me não é do meu feitio
A minha semeadura foi perfeita
Sou semeador realizado e feliz
Plantei neste solo meu paraíso
Minha prole faz melhor que fiz
É nela que meus sonhos realizo
A minha alma será o meu legado
Sobreviverei em alguma memória
Serei eterno enquanto lembrado
E uma brisa soprar minha história.
Quando
Quando eu envelhecer
Quero ser um poeta
No meu modo de dizer
Tudo que nos afeta
Quando daqui me for
Quero ser exemplo
Que incite só o amor
Além de um templo
Quando for memória
Quero ser alegria
Ter a minha história
Editada em poesia
Quando for só vestígio
Quero ser lembrado
Com algum prestígio
Por um bom legado.
Quisera
Quisera eu...
Ter olhos para o flerte
Ter a sorte de rever-te
Ter a alma leve e lúdica
Ter ouvido para música
Tato para um instrumento
Para outra arte, algum talento
Quiserra, pois, viver de arte
Ter elegância para cativar-te
Da juventude, o apogeu
Quisera eu...
Não Caibo em Mim
Boa parte de mim anda por aí
Já nem me caibo onde estive
Tanto eu assimilei do que vivi
Que compartilho o que obtive
De gratidão não me contenho
E aí transbordo-me em versos
Nos recônditos me embrenho
Juntos nas reflexões imersos
Para atrair borboletas, colibris
Cuido tão bem do meu jardim
Da vida que levo até quero bis
Em êxtase não caibo em mim.