O Sangue
Eu gosto que meu coração sangre, eu gosto que ele se estenda em dor e gosto
que ele se reconheça em sofrimento, eu gosto que meu coração tenha que
procurar a cura dum sentimento em outro sentir de si ou no puro causar de sua
ferida a cura em seu próprio movimento.
Eu gosto que meu coração sangre e se faça o princípio da dor que principia a
vida, que ele sangre e derrame sobre a ferida de sangue o reatar de sua alegria
dividida.
Eu gosto que meu coração sangre e conheça que o sangue estendido no dividir
de sua alegria é a seiva que o retoma em seu tempo na promessa de que no seu
reflorescer tudo se alivia.
Eu gosto que meu coração sangre e na sua alegria retomada não mais em tempo
se veja, no que em seu sangue refloresce a vida não mais em promessa, e que
em seu sangue há de si a própria cura, que na sua própria alegria a seiva da dor
em condição seja.
Eu gosto que meu coração sangre, pois que, no sangue, dividida, está e sempre
é...a própria vida.