Conto que te conto
O dia amanheceu sem querer
O vento que abre a janela é visita esperada
E não encontra você;
O desejo escondido num risco de olhar
Se confunde com o cheiro inebriante de amor
Que ficou perdido no ar;
Ainda é possível ver as silhuetas de carinhos
Nos lembretes espalhados pelos quatros cantos da memória.
Memória que vive, revive, recorda, transporta
O vazio da ausência para o mais alto voo da imaginação;
Ao momento vivido celebro o prazer, o viver, o pertencer,
Um momento de seres que ousaram se conhecer
Sem ouvir a razão.
O seu gosto ficou, seu perfume na pele perpetuou,
Seu abraço libertou, sua mão me tocou, sua boca expressou,
E seu corpo em mim ardentemente pousou.
Uma lágrima caiu dos seus olhos a cada passo dado;
Te caminhei, te desejei, te desenhei, te salvei
E num sussurro voraz você me ganhou.
Eu senti, te senti, te servi, te fundi em meu corpo,
Deixei sua alma nua; realizei a vontade tua.
No alagar repousante da cachoeira, te entreguei meus pecados
E te vi saciar-se feito animal faminto na rua.
Teu riso incontido brotou,
de fome não morres, tampouco de amor;
O sol se pôs no final e quando o suor se fez sal
a noite chegou.