Heróis infames
Heróis infames
I - Comando primeiro
Aí quem me dera
se o meu rosto na História
fosse desfigurado ao meu favor
e para o pavor dos mártires
seria eu reconhecido como certo
e não como o servo
dos tempos fugazes
onde os cartazes
nada dizem sobre mim.
II - Atemporal
Chora a lira
e Roma não pega fogo
pois seu povo hoje
escolhe os imperadores
e são esses senhores
que decidem sobre suas vidas
e ao chorar a lira
hoje o fogo não queima
propriamente sobre o povo
mas sim debaixo dos panos.
III - Instrumento abatido
A pena já não escreve
nessa era digital
apenas um canto de um poeta
ruge no final
de um despertar desatento.
IV - Epílogo
O povo elege os seus salvadores
condutores messiânicos
de eternas promessas
e as remessas de sonhos
se esvaem na desilusão
das noites caladas
e nas madrugadas
ébrios heróis infames
tentam calados nos alertar
sobre a nossa condição
e a miséria a que nos submetermos
a troco de dar a nossa liberdade
de ter ilusões
a troco de rápidas paixões
sem sentido nenhum
reafirmam o vazio líquido que nosso mundo
acabou se tornando.
Mateus Almeida Santos. 07/03/2022