Na ponte

Imagina minha reação,

Logo eu tão acostumada

a correr na contramão.

Com vidros quebrados,

Capô arranhado,

E arrastando o parachoque.

Andava a 2km por hora,

Por pura insistência e

Ainda me fazendo de forte.

Mas veja como são as coisas,

Caro leitor deixe-me dizer,

Já ia em ponto morto, e

No meio de uma ponte eu parei.

E eu que pensava que na estrada,

Nada iria mudar, dei por mim,

Encarando outro carro estilhaçado, que vinha do lado de lá.

Perguntei a ele,

um pouco curiosa,

Como isso lhe aconteceu ?

E com um sorriso franco,

Em um sopro de álcool

ele descreveu:

- Corria na estrada, ao lado de alguém.

Corria, por impulso, o coração a 100.

Mas no fim da linha havia uma curva e não me dei o tempo para virar.

O pior de tudo, olhando a estrada

eu já sabia que a curva estava lá.

Amizade improvável,

De dois acidentados por motivos iguais,

Fomos ao fim da ponte.

Tratamos o recuo como um cais.

Vendo no mar profundidade,

A morte do sol

e nuvens cor de laranja.

Olhei pra ponte vazia,

Depois para minha lataria.

Será que isso tem esperança?

Encarando um ao outro,

Ligamos o motor,

Mas sem nos afobar.

Rugido tímido, Rodas girando

Será possível correr sem capotar?