MUITOS SÃO OS EUS
“A minha inteligência é um amplo guarda-fato de almas. Todos os dias visto uma.” – António Ferro
Muitos são os eus,
Alheios ou meus,
Que levo em meu ser.
Muitas são as almas
Que levo em minh’alma,
No amplo guarda-roupa de almas
Em que cada hora pego
Uma nova e diversa alma
Que depois troco por outra.
Já disse que tenho em mim
Mais pessoas que Fernando Pessoa,
Como tenho em mim
Mais sonhos que Álvaro de Campos.
Já disse também que se me contradigo
Muito mais que Walt Whitman
É porque contenho multidões
Que Walt Whitman jamais conteve,
Como já afirmei que nem mesmo Magritte
Pintaria todos os eus
Que tenho em mim, pois para pintar
Todos os eus que tenho em mim
Seria necessária uma legião de Magrittes.
Se Mário de Andrade era trezentos e cinquenta,
Eu sou mais, muito mais que trezentos milhões.
Cada losango do meu invisível
Traje de arlequim
Contém mais almas
Que todo o exército de Hellequin.
Muitos são os eus,
Alheios ou meus,
Que levo em meu ser
E não me perguntes qual deles
Terá escrito estas linhas
Que talvez formem um poema.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Santo Amaro, São Paulo, SP, 02 de janeiro de 2020.