Aquele banquinho
Sentado frente a mim mesmo
Não era um instante apenas
Era uma vida toda
Era olhos nos olhos
Não havia segredo
Nem ao menos um pouco de medo
Era um grito suprimido no peito
Um céu que se estendia muito à frente
Era uma fenda perdida no espaço
Eram retrocessos, avanços
Eram quedas e levantares
Fome, sede, jantares
Poemas sem nome, versos sem rima
Baixo, perto, alto, cima...
Montanha sem cume, sopa sem legume...
Eram olhos que me olhavam
Com um medo profundo
Carregavam ali, tão pesado, o mundo
Era erva, era daninha, um joio
Um jogo sem vencedores
Um poema romântico só na mente, sem amores...
Havia ali em minha frente um espelho
Era eu, corpo alma coração,
Um ser tão perdido, folha branca,
Tabula rasa, um peito em brasa,
Asas a voar, um eflúvio no mar,
Uma poeira no universo, um rei de meu destino
Um olhar em outro olhar
E em tantos caminhos a me embrenhar
Pelo simples e covarde
Olhar a tantos olhares
A tantos lugares
Por medo de me olhar...
Marcio Lima
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