O quadro
Liberaste a criança contida em ti.
Deixaste-a livre, sem angústias próprias das prisões.
Já não há mais os malmequeres premidos pelo espaço circundante.
Ressoa o cântico na terra agreste dessa tua infância livre.
Foste capaz de galgar, sozinha, os degraus dessa descoberta.
Por isso, só por isso, floresceste amplamente, entre teus sonhos.
Deixaste os atos maquinais entremeados de incertezas.
Surgiste, na candura comum a todas as crianças.
Brincas agora no vargedo de macias gramas,
saltitando entre figueiras silvestres, no jardim da tua casa,
nas frescas aragens dessas manhãs outonais.
Brevemente o sol cintilará sobre teus cabelos desarrumados,
sobre teu corpo frágil, ofuscado de felicidade.
Ressoa a certeza da tua inocência, ainda que oscilante.
Perenemente descobre-se que já não es mais acanhada.
Teu corpo é sinônimo de travessuras encantadoras
Teus olhos fitos absorve a canção dos pássaros.
Perpetuas, paralisada, contemplativa, essa tua verdade.
Em tua afabilidade, tua infância natural, renascem novos momentos,
ressurgindo cintilante na amplidão do quadro em que participas.
Perde-se, no crepúsculo, embriagado, encantado, um poeta,
emoldurado por esse entorno que circunda essa poesia...