Ela
Qualquer tentativa de recuperação é em vão
Sob a luz cintilante daquele Amarelo-sol, as memórias se turvam
Torna-se cada vez mais díficil enxergar
Afinal, depois Dela
Nada mais foi igual
Enlouqueci
Ela ressignificou a arte
Cada sorriso, uma poesia
Cada palavra, uma sinfonia
Cada movimento, uma pintura que mereceria
Um lugar no museu para apreciação geral
Deixe-me ser o arquiteto desse prédio
Pois conheço seus traços, os elementos fundamentais que a constroem
Aprecio-a como ninguém - porém como todos deveriam fazê-lo
Simultaneamente, não a conheço: a cada novo momento Ela se renova
Sua beleza floresce e demonstra uma forma nunca-antes-vista de graciosidade
Sustentar tanta venustidade exigirá um prédio de corredores infinitos!
O fascínio desperto por Ela é tal que a
Natureza, sempre tão bela e que por milênios foi completa em si mesma
Após conhecê-la, se conscientizou do vácuo que por tanto tempo possuiu
Ela, que com o azul faz perfeitamente a ponte entre o céu e o mar
Que com o amarelo expressa integralmente um lindo brilhar
Que com o branco torna insignificante a luz do luar
E com o vermelho...
Ah! O vermelho adquire uma personalidade própria
Com Ela, torna-se misterioso e fanfarrão; soberbo e convidativo
Tudo ganha um novo tom ao seu redor
As cores, como que feitas sob encomenda, lhe caem muito bem
E mais ainda, lhe caem bem as roupas
No chão. Afinal, as cores são harmoniosas mas apenas servem para exercitar a mente do curioso
Sem nada cobrindo-a, revela-se: Deusa
A Deusa que jamais poderia ser encontrada nos confins da mente mais curiosa
Séculos de evolução não garantiram tamanha criatividade ao cérebro humano que,
Incapaz de devanear com precisão sobre a volúpia desse anjo, se limita a sonhar com
Ela, cujo corpo entrelaça-se ao do poeta
E, juntos, misturam seu suor salgado - que encharca a coberta
Os lábios dele, quentes como um cometa
Deslizam sobre o corpo Dela enquanto remove-lhe a camiseta
Neste momento, seus olhos (sempre risonhos) tomam nova forma
Imersos no prazer, tornam-se completamente ardilosos
E a doce menina vira uma feiticeira irresistível
Quero seu tempo, preciso do seu corpo
Muito pode ser dito sobre os poucos momentos que passamos juntos
Mesmo que o tempo tenha sido curto, a conexão é
Tão pujante que só me faz crer que em outras vidas já nos encontramos
Rastreio minha mente numa tentativa de identificar o que mais me atrai
Sua leveza, sua paixão, sua força, sua alegria... difícil tarefa: tudo lhe é perfeito
Entretanto, aliviado posso afirmar que foi
Ela quem me apresentou o amor.
Me ensinou a amar e me permitiu a paixão de forma indolor
Satisfaço-me puramente em assistir seu sorriso encantador
Ela, o mais belo Ipê; eu, o mais sortudo
Beija-flor
E, embora distantes - pelo espaço e pelo tempo
Breve será o momento de nosso reencontro, quando
A maldita abstinência terminará e eu sentirei novamente o seu sabor