Bêbado ou sóbrio?
Quando nascemos, dentro de nós,
há um espelho em que nos vemos.
Lá está ela, uma imagem inteira,
inteiramente bela.
Não sei qual é o certo momento
em que o passar do tempo
começa o vidro trincar.
Quebrado por um martelo de pressão social
que muitos acreditam ser normal:
antes triturado, que liberto do meio aprisionado - eles dizem.
A bagunça, resultado da confusão,
principalmente da inversão de nossos eus,
nos deixa perdidos diante de tanto pedaço quebrado.
Agora, ao me olhar no espelho, enxergo
minha imagem dividia, em cheio, aos cacos
E mesmo perdido entre tantos, devo escolher um tasco,
e ter ele como assumido por mais que seja barato.
Um pedaço é o eu profissional, outro o famoso no meio social
filho, amigo, aluno e menino
algoz, pilantra e cheio de meandros de ruindade.
São tantos eus que já não me lembro de olhar o espelho
completo, inteiro, reflexo.
Bêbado ou sóbrio? Já bebi tanto para ser eu
que já me confundo eu com eu.
Qual de mim é realmente parte deste mundo
e deve novamente assumir o comando?