Os perigos do vazio

O pensar sem foco é viciante,

Apenas um não pensar constante,

Do nada faz-se objeto, paradoxalmente;

É o existir não existindo,

Preenchendo vazios com suco de limão,

Lírica hipérbole redigindo uma história,

Vivo me suponho, ou será só desatenção?

Vai a vida se esvaindo, um dia por vez,

Na fuga de um mundo sem escapatória,

Cuja memória é a saudade do que não se fez.

Nos arredores desérticos da mente,

Desidratada pela incompreensão,

Somente o nada é permanente,

Somente a ausência move o coração.

Antes que o incauto abrace e defenda,

da aridez a pureza, do vazio a beleza,

do não-ser pretensa paz,

Obrigo-me a alertar sobre a aspereza,

Muito mais do que reles sensação,

Esse monstro nunca se compraz,

Em nada se compara com meditação.

Nada me atrai de fato neste instante,

Nada que interesse ou levante,

Flores quaisquer que brotassem da reflexão,

Grassa apenas o nada abrangente,

O branco-nada ofuscante,

A revelar que nada é importante.

Quisera eu agora saber agir,

Poder sublimar tal sina, ou ainda sumir,

Quem sabe até corrigir

O rumo dessa estranha sorte,

Mas nada há que resolva,

Nem mesmo a morte,

Esperança outrora havia, foi-se.

Absorto vislumbro a quimera que devora vida,

Vulto baço num espelho torto: foice.

Paz sobreviria, quiçá, atente:

Do decesso não serei arauto,

É outro o mote que este poema exorta,

Atrai por certo atenção todo defunto

E o nada que me destroça já não suporta,

De qualquer forma, tornar-se assunto.

Weber Palmieri
Enviado por Weber Palmieri em 04/01/2022
Código do texto: T7421526
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